sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Desmatamento da Amazônia volta a crescer e atinge 770 mil km2

Por Maurício Tuffani
27/11/15 12:04

Ouvir o texto

Taxas anuais de desmatamento por corte raso (supressão completa de vegetação) na Amazônia Legal desde 1989. Dados do Prodes/Inpe.
Taxas anuais de desmatamento por corte raso (supressão completa de vegetação) na Amazônia Legal desde 1989. Dados do Prodes/Inpe.
O desmatamento anual por corte raso na Amazônia brasileira voltou a crescer. Agora, contando os 5.813 km2 de floresta derrubada entre 2014 e 2015, que correspondem a um aumento de 16% em relação ao período 2013 a 2014, a área total da vegetação nativa já completamente eliminada chegou a 770.038 km2, pouco maior que a da Bahia e quase a metade da do Amazonas.
Na verdade, a devastação é ainda maior, pois os dados anunciados se referem somente às áreas de corte raso, ou seja, que foram totalmente desmatadas. Esses números não incluem áreas muito degradadas pela extração seletiva de madeira e também por incêndios ocorridos anteriormente, como já explicou este blog (“Amazônia: números de desmatamento encobrem devastação”, 12.set.2014).
Produzidos pelo Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite), do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), os dados relativos ao período de agosto de 2014 a julho de 2015 foram divulgados na noite de ontem (quinta-feira, 27.nov) pelo MMA (Ministério do Meio Ambiente).
PROPAGANDA ENGANOSA
A divulgação pelo governo federal tentou de forma equivocada minimizar o aumento da devastação, enfatizando um aspecto positivo, que na verdade é imaginário. Logo em seu início, a nota “Desmatamento registra terceira menor taxa”, divulgada pelo MMA afirmou:
“Apesar do acréscimo de 16% registrado de julho de 2014 a agosto de 2015, as taxas de desmatamento da Amazônia se mantiveram dentro da barreira dos 5 mil km2.”
Além de essa afirmação ser enganosa porque a barreira dos 5 mil km2 já foi ultrapassada desde o período anterior —na verdade, a atual está muito próxima dos 6 mil km2—, ela está errada também por confundir os meses que definem os períodos anuais de referência, que começam em agosto e terminam em julho do ano seguinte.
OUTRAS MÁS NOTÍCIAS
Mantendo a liderança dos anos anteriores, os Estados campeões do desmatamento em 2014-2015 foram Pará (1.881 km2) e Mato Grosso (1.508 km2). Mas a surpresa negativa ficou para o placar da modalidade da variação em relação às taxas anuais anteriores, na qual o vencedor foi o Amazonas, com aumento de 54%. A “medalha de prata” desse avanço na devastação foi Rondônia (41%) e a de bronze, para Mato Grosso (40%).
Prodes_UFs_2014-2015_Inpe
Ao comentar esses números, a ministra Izabella Teixeira, do Meio Ambiente, afirmou:
“É incompreensível, pois esses Estados receberam R$ 220 milhões do governo federal para modernizar seus sistemas de licenciamento e fiscalização e agora apresentam esse resultado. (…) Temos que ver o aconteceu. (…) Está ocorrendo uma mudança no perfil das áreas desmatadas: Antes havia um desmatamento pulverizado. Mas agora estão desmatando em grandes áreas.”
De acordo com a nota do MMA, o mapa do desmatamento nesses Estados mostra também um aumento da devastação no entorno de áreas protegidas, principalmente terras indígenas. “É indício de esquentamento de madeira”, avaliou a ministra referindo-se ao procedimento ilegal de desmatar além do que foi autorizado ilegal, que é comum em propriedades no entorno de unidades de conservação e áreas indígenas.
ALERTA
O fato de terem ocorrido esses aumentos das taxas anuais de corte raso nesses três Estados, e justamente em grandes áreas contínuas pode indicar um problema ainda maior, que é o de o CAR (Cadastro Ambiental Rural) não estar produzindo os efeitos previstos desde sua instituição por meio da lei que alterou e esquartejou o Código Florestal em 2012.
Por falar nisso, que tal acabarmos com essa história de chamar de “código florestal” essa lei completamente desprovida de referenciais científicos e legais de proteção ambiental? Chega, não?

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Desmatamento já atinge metade do Cerrado, diz governo

  •  
Agência Estado

Uma tecnologia que já havia sido aplicada à Amazônia em 2008 foi "exportada" para o Cerrado em 2013, revelando que quase metade do bioma já foi desmatada. Dados do TerraClass, projeto que mapeia o uso da terra e da cobertura vegetal no Cerrado, foram divulgados nesta quarta-feira, 25, pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA).
O mapa foi elaborado com base em interpretação visual de 121 imagens de satélite, processadas pela técnica de segmentação por crescimento de regiões. Constatou-se que 54,62% do bioma - o segundo maior da América do Sul, ocupando cerca de 22% do território brasileiro - está preservado. O restante se enquadra na classe "áreas antrópicas", que inclui terras urbanizadas ou usadas para silvicultura, mineração e, principalmente, agricultura e pastagem.
Goiás, o terceiro Estado sobre o qual mais incide a área contínua de Cerrado (329.600 km²), tem menos da metade do bioma preservado - 42%. Mato Grosso do Sul já desmatou 68% do bioma, que totaliza 216 mil km². O alto índice de urbanização de São Paulo leva a um índice de 81% de desmatamento, embora a área de cobertura seja menor, de 81.100 km².
"A primeira boa notícia é que as pessoas achavam que tínhamos menos Cerrado, mas na verdade temos mais. O que antes era apenas um 'chute' agora tem validade técnico-científica", disse a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.
Foram consideradas áreas preservadas aquelas com padrões de cobertura da terra compatíveis com as diferentes fisionomias vegetais que compõem o Cerrado. "Uma área natural não necessariamente significa que não tenha uso humano. Pode estar sendo usada para atividades produtivas pouco intensivas", disse o diretor do Departamento de Florestas do ministério, Carlos Alberto Scaramuzza.
Para os especialistas envolvidos no projeto, o desafio é ampliar a produção agropecuária no bioma que é considerado uma importante fronteira agrícola, conservando a biodiversidade e reduzindo a pressão pela ocupação de novas áreas. O Cerrado abriga nascentes das Bacias do Araguaia-Tocantins e São Francisco, além dos principais afluentes das Bacias Amazônica e do Prata, e por isso é considerado estratégico na área de recursos hídricos.
Programa
Nesta quarta, Izabella lançou o Programa Nacional de Monitoramento Ambiental dos Biomas Brasileiros, cujo objetivo é monitorar o desmatamento, o uso das terras, as queimadas, a restauração da vegetação e a extração seletiva, abrangendo todos os biomas brasileiros, pelos próximos quatro anos. Trata-se de uma das medidas para alcançar a meta de reduzir o desmatamento em 40% até 2020, conforme estabelecido na Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC).
Em 2017, o mapeamento está previsto para ser feito pela primeira vez na Mata Atlântica; no ano seguinte, será a vez de Pantanal, Caatinga e Pampa.